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XHá alguns anos, na São Paulo Fashion Week, sacos de cimento viraram artigos de luxo nas mãos dos estilistas da marca Cavalera. Fora das passarelas, o mesmo conceito de reutilizar produtos – o chamado upcycle – transformou pacotes de salgadinhos e lixo eletrônico em bolsas e bijuterias.
Instalada há alguns anos no Brasil, a empresa americana TerraCycle enxergou esse potencial e criou acessórios confeccionados de lixo. De embalagens usadas de salgadinhos e sucos em pó, eles fazem bolsas, mochilas, pochetes, estojos, cadernos, guarda-chuvas e até capas para caixas de som.
“Estamos dando uma solução criativa para produtos e materiais que não podem ser reciclados e antes iam parar em aterros sanitários”, diz o presidente da empresa, Tom Szaky. “E, para isso, usamos a matéria-prima mais barata que existe: o lixo.” O problema dos pacotes de salgadinho e de bolachas é que eles são feitos de um material misto entre plástico e alumínio. Comparados a outros tipos de plástico, como o PET, são mais difíceis de reciclar.
O processo da TerraCycle – tanto nos EUA como aqui – funciona assim: você se cadastra no site e envia para a empresa, gratuitamente, as embalagens que coletou. Aqui, os produtos são desenvolvidos por cooperativas e vendidos por preços entre R$ 10 e R$ 30 na rede Walmart.
Lixo eletrônico
Com a mesma intenção de Szaky, a artista plástica paulista Naná Hayne cria bijuterias, artigos de decoração, artesanato, esculturas e telas a partir de lixo eletrônico, que, assim como os pacotes de bolachas, são mais difíceis de se reciclar.
“Um dia minha impressora não estava funcionando. Tive um acesso de raiva e quebrei o cabo do aparelho. Descobri que podia fazer arte”, conta. “Pego computadores em assistências técnicas e uso disco rígido, cabo de impressora, peças de teclado, chips, monitores.”
Seus clientes são, principalmente, jovens conectados e consumidores de novas tecnologias, que compram os artigos pela estética, mas também pela consciência ecológica. "É um incentivo a reutilizar antes de reciclar", diz.
As peças da artista ajudam a amenizar o (imenso) problema que o lixo eletrônico representa para o Brasil. Um relatório da ONU divulgado esta semana apontou o País como o maior produtor de lixo eletrônico entre as nações emergentes: mais de 350 mil toneladas por ano entre 2005 e 2006. Uma pesquisa da Nokia, feita em 2008, indicou que apenas 2% dos celulares descartados são reciclados.
O maior entrave para esse tipo de lixo é que ele pode conter metais pesados, como chumbo e mercúrio, que, se descartados no lixo comum causam danos à saúde e ao meio ambiente. Outro problema é que a logística para reciclá-lo é cara, já que quase tudo precisa ser enviado para os fabricantes no exterior. As operadoras de telefonia celular Claro e a TIM, por exemplo, coletam celulares, baterias e carregadores antigos em suas lojas. Em seguida, uma empresa de logística recolhe o material, faz a separação e envia para a Europa.
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